Assentamentos produzem 17 mil toneladas de arroz agroecológico no Rio Grande do Sul.
A produção de arroz agroecológico nos assentamentos da região metropolitana de Porto Alegre deve duplicar em relação à safra passada. Este ano, a área plantada subiu de 2,1 mil para 3,8 mil hectares. Isto significa uma expectativa de colheita de 17 mil toneladas do grão - o dobro do resultado obtido no último ano com o cultivo, que segue os princípios de preservação da natureza. Os números foram anunciados na manhã desta quinta-feira (17), durante a VIII Abertura da Colheita do Arroz Agroecológico, no assentamento Apolônio de Carvalho, em Eldorado do Sul (RS).
O superintendente regional interino do Incra/RS, Roberto Ramos, lembrou que, nos últimos quatro anos, a autarquia destinou cerca de R$ 1,2 milhão para estimular esse tipo de produção, por meio do Programa Terra Sol. Os recursos foram investidos em unidades de beneficiamento, armazenamento e secagem em Nova Santa Rita, Tapes e Eldorado do Sul. As unidades em operação garantem o preparo do produto para venda final ao consumidor. Já na fronteira oeste do estado, as ações do Instituto estão concentradas no preparo do solo, irrigação e plantio das lavouras, totalizando um investimento de mais de R$ 350 mil.
Presente no evento, o governador do estado, Tarso Genro, saudou a iniciativa. "O cultivo de arroz agroecológico nos assentamentos mostra que é possível realizar inclusão com paz social, respeito aos direitos dos outros e produção de alimentos saudáveis". Cerca de 500 pessoas estiveram na VIII Abertura, que contou com a participação de secretários estaduais e autoridades da região.
Segundo a Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul (Cooceargs), a cada ano, novos agricultores aderem ao projeto. Na safra passada, a atividade envolvia 211 famílias, mas o número também dobrou: 428 participam da produção neste ano. Ao todo, 16 assentamentos em 11 municípios têm lavouras de arroz ecológico. "A maior área de arroz orgânico do Rio Grande do Sul hoje está nos assentamentos da reforma agrária", reforçou o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Cedemir de Oliveira.
O preço é um dos principais atrativos. Enquanto a saca do produto convencional está cotada em R$ 22, o sistema ecológico remunera 30% a mais, ou seja, paga R$ 28 pelo mesmo volume. Além disso, o sistema preserva a saúde. Muitos assentados resolveram abolir os agrotóxicos de seus lotes porque haviam sido intoxicados nas lavouras.
Mercado.
O arroz produzido sem aditivos químicos está disponível na loja da reforma agrária, no Mercado Público de Porto Alegre, além de feiras ecológicas da capital e interior do estado. Cerca de 5% da produção terá como destino os mercados europeu e norte-americano. Mas a maior parte (70%) será comercializada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para incrementar os programas de segurança alimentar do governo federal ou ser servida como merenda para estudantes. De acordo com dados da Cooperativa de Prestação de Serviços Técnicos (Coptec), 150 escolas porto-alegrenses já incluíram o produto no cardápio.
A garantia de que o arroz é de procedência orgânica é dada pelo Instituto de Mercado Ecológico (IMO) desde 2004. Paralelamente a este trabalho, em dezembro de 2010 a Coceargs entrou com pedido junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) para também adquirir o direito de atuar como certificadora, na modalidade participativa. O processo está em fase de análise e ajustes finais.
Alternativa.
A orizicultura foi implantada nos assentamentos do Rio Grande do Sul em 1995. No final da década, o produto sofreu desvalorização, causando problemas econômicos aos agricultores. Com anos de experiência na produção orgânica de hortaliças, um grupo de assentados da região metropolitana resolveu unir as duas práticas e cultivar arroz ecologicamente.
O assentamento Apolônio de Carvalho foi criado pelo Incra em 2007. São 950 hectares onde vivem 70 famílias. Desde o ano passado, 515 hectares estão cobertos pelos arrozais ecológicos. "Além de produzir um alimento saudável, o plantio de arroz agroecológico é uma renda garantida para nós, que vencemos as dificuldades iniciais e pretendemos ir adiante", afirmou Jaqueline Nunes. Ela conta que as famílias também estão investindo na produção de sementes orgânicas do grão, para reduzir os custos com a lavoura.
A experiência serve de modelo para Roger Rubino de Araújo, que mora no assentamento Madre Terra, implantado pelo Incra há um ano e sete meses no município de São Gabriel. O agricultor uniu-se a outros 45 vizinhos e estão prontos para colher a primeira lavoura coletiva de 78 hectares. "Ver experiências consolidadas nesse evento é uma motivação para grupos como o nosso, que estão começando a caminhada da agricultura ecológica".
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